Recebi um telefonema, em que me disseram "precisa urgentemente de se dirigir ao hospital", e lá fui eu, dirigi-me logo à recepção para saber o que se passava e mandaram-me ao piso 3.
Senti um arrepio na espinha, aqueles como se costuma dizer que acontecem "quando a morte passa por nós", vi um corredor enorme, VAZIO, mas afinal o que fazia eu ali? o que de tão urgente havia para estar ali àquelas horas, de pijama, sem ninguém sequer? Segui as indicações dadas pela recepcionista, e encontrei a sala a que me mandaram dirigir, estava lá um homem (senhor doutor), carracundo, velho, mas com um aspecto bondoso, mandou-me sentar porque o que iria dizer não era das melhores coisas, eu sentia o meu coração a mil, tive momentos que nem o senti sequer.
Muito sério, aquele senhor doutor com ar de bondoso disse: "a sua avó não está no melhor estado, caiu das escadas e partiu o pescoço, tem o cérebro "morto", e só se encontra viva por estar ligada as máquinas". Eu fiquei com o ar do tipo, "o quê?", "como?mas porquê", uma pessoa daquelas, que fazia aquela rotina diariamente, como poderia ela estar assim, o que teria acontecido para tal coisa se dar? Tinha a cabeça com as palavras todas baralhadas. Só pensei seriamente em dirigir-me ao quarto dela, mais nada. E assim o fiz, corri, corri como se tivesse numa maratona e chegar à meta fosse o meu objectivo, encontrei o quarto, entrei mesmo que lá estivesse alguém que não quisesse que eu o fizesse, e lá a vi, deitada, cheia de tubos, com uma máquina que só fazia "piiii, piiii" constantemente, devido à minha altura (era pequenina) agarrei no mini-escadote que ali estava e encostei-o a cama, agarrei a mão dela com toda a força que tinha, mesmo estando cansada de tanto correr, falei para ela, pedi que ela voltasse, que não me deixasse ali, não seria igual se ela partisse, queria que ela me visse crescer, que visse o meu casamento, os meus filhos, que só partisse quando achasse que fosse a altura (afinal eu era uma criança), queria tudo isto, e pedi-lhe, pedi-lhe enquanto chorava constantemente e gritava a todos os pulmões "vovó volta", derrepente aconteceu o mais estranho de tudo, ela deitou uma lágrima, a qual eu sequei como sempre fazia, a seguir a esse gesto a máquina deixou de fazer o barulho que fazia anteriormente e passou ao "piiii", eu já tinha visto isto nos filmes, presumi que ela tivesse partido, apesar de não o querer, agarrei-me a ela, chorei, chorei imenso, e os médicos acabaram por chegar, quiseram que eu saísse dali, mas eu não saí, tiraram-me a força, no meio de gritos e choros eu acalmei, acalmei porque senti uma lufada de ar fresco, e baixinho ao ouvido ouvi "netinha está tudo bem, a vovó foi para um sítio tão bom quanto aquele em que estava, um dia vais ver que te irei ter de novo a meu lado" (podem chamar-me de maluca, e nem sequer acreditarem, mas a verdade é que o que eu ouvi, isso ninguém me tira).
Deixei-a ir como foi obrigação, era a lei, ela partiu, mas deixou imensa coisa para trás, as quais eu preservo, desde o meu avô, aos seus vestidos e bens, hei-de sempre preservá-los, mas uma coisa que digo, irei fazer o mesmo que lhe fiz a todos os que amo, até ao último momento, mesmo que me impeçam, eu estarei lá, a ver partir, e a ter aquela voz ao pé de mim com a lufada de ar fresco.
Onde quer que estejas Vovó, quero que saibas que está tudo bem, hoje vi o Vovô e ele contou-me mais uma das histórias que eu não me canso de ouvir, sobre o vosso casamento, e prometeu-me que quando eu casar ele irá estar lá, contigo presente, e me irá dar como presente a tua aliança que sempre adorei e admirei.
Nunca me deixes, acompanha-me, sempre. E como sempre soubeste, AMO-TE!
Tão triste e tão querido :)
ResponderEliminarohhh :(
ResponderEliminar:(
ResponderEliminarTens de ser forte, nunca te deixes ir abaixo , a tua avó está sempre a ver-te
beijinhos